A Polícia Federal suspeita que cerca de 200 prefeituras estejam envolvidas no esquema de desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio de tráfico de influência organizado por empresas de consultoria. Ainda não há indícios de participação de funcionários do BNDES. O esquema foi descoberto durante a Operação Santa Tereza, realizada na quinta-feira (24).

Policiais federais lacraram nesta sexta-feira (25) o prédio onde funcionava o hotel e a casa de prostituição que deram origem à investigação. A quantidade de dinheiro que entrava no caixa do hotel e da boate chamou a atenção dos policiais. A suspeita é que ali, além de tráfico internacional de mulheres, havia lavagem de dinheiro. Mas eles se surpreenderam ao descobrir indícios de desvio de dinheiro público.

Segundo a polícia, pessoas com influência política faziam o papel de lobistas. Procuravam prefeituras e empresas privadas interessadas em empréstimos do BNDES, ofereciam facilidades e indicavam uma consultoria.

O grupo conseguia a aprovação do empréstimo e quando o dinheiro era liberado, 5% do valor era dividido entre a quadrilha. Entre os presos na quinta-feira está o executivo Boris Timoner, citado como diretor da área de expansão das Lojas Marisa.

Em nota, a Marisa diz que ele não é executivo, diretor ou funcionário da empresa e sim um contratado pela Tnolplan Planejamento e Desenvolvimento de Negócios Ltda, que presta assessoria na prospecção de novos pontos de venda.

A Marisa S/A diz também que obteve financiamento junto ao BNDES para a expansão e modernização de suas lojas, e que o contrato está regularmente registrado em cartório. Já o BNDES informou que tem duas operações contratadas com a empresa, uma delas de 14 de fevereiro deste ano, no valor de R$ 165 milhões. Outra foi contratada em outubro de 2006, no valor de R$ 114,760 milhões.

Policiais também conduziram algemado para a sede da Polícia Federal o advogado Ricardo Tosto, sócio de um dos escritórios mais famosos do país. Ele já teve entre seus clientes o deputado Paulo Maluf e o deputado cassado José Dirceu. Tosto é conselheiro do BNDES e representante da Força Sindical no banco. O presidente da OAB de São Paulo esteve nesta sexta-feira na sede da Policia Federal e reclamou do tratamento que o advogado recebeu.

“Todo acusado no Brasil deve ser tratado como inocente até ter uma sentença definitiva. Assim, não se justifica esse abuso das algemas, diz Luiz Flavio D'Urso.”
Nesta sexta-feira os advogados dos dez presos também estiveram na Polícia Federal. Eles levaram roupas e comida. Só nesta sexta-feira à tarde os presos começaram a ser ouvidos pelo delegado que investiga o caso.

A operação Santa Teresa foi realizada na capital e no interior de São Paulo. Os policiais cumpriram 11 mandados de prisão temporária e 18 ordens de busca e apreensão para coletar provas.  A Polícia Federal acredita que o prostíbulo se manteve em funcionamento porque seus proprietários oferecem vantagens ilícitas a autoridades e servidores públicos responsáveis pela fiscalização.