Após o anúncio de que o Grupo Cosan comprou por US$ 826 milhões as operações de distribuição e venda de combustíveis da Esso no Brasil (conforme divulgado ontem no Jornal da Cidade), especialistas projetam novas disputas de preços entre as companhias distribuidoras. Na avaliação do diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sincopetro) em Bauru, Edivaldo Tuschi, o negócio fechado pela Cosan vai “esquentar” o setor.
“Ainda não é possível fazer muitas projeções sobre o teor das mudanças, mas certamente o mercado vai se movimentar. Agora, de um lado está a Petrobras com o monopólio da gasolina e do diesel. Do outro está a Esso, já que cerca de 65% da produção de álcool no País está na mão da Cosan. Isso quer dizer que o futuro do setor terá modificações, só não é possível saber ainda se isso significará estabilidade, queda ou aumento de preços”, analisa Tuschi.
Os ativos da Esso também eram disputados pela Petrobras, que havia encaminhado proposta à controladora ExxonMobil International Holdings B.V., mas a vencedora da “disputa” foi a maior produtora de açúcar e álcool do Brasil. Além do pagamento em dinheiro de US$ 826 milhões, a Cosan vai assumir US$ 163 milhões em dívidas, mas em contrapartida terá US$ 35 milhões em “créditos líquidos com partes relacionadas existentes ao final de 2007”.
A venda para a Cosan das quotas das empresas que controlam a Esso Brasileira envolve todas as operações de combustíveis, os negócios do ramo de lubrificantes e as operações de aviação no Brasil, incluindo uma rede com mais de 1.500 postos revendedores com a marca Esso. Nas palavras de Tuschi, o negócio pode transformar a Cosan na “Petrobras do álcool”.
“Antigamente nós tínhamos o monopólio total da Petrobras, e agora ele será dividido com a Esso pelo fato da Cosan deter 65% da produção de álcool no Brasil, ou seja, quase um monopólio (do álcool). Isso significa que os postos da Esso terão ‘bala na agulha’ para brigar nos preços. Isso vai mexer no mercado como um todo, porque não se pode esquecer que na composição da gasolina existe 25% de álcool”, ressalta.
Na avaliação do empresário - que possui posto de bandeira Esso em Bauru -, quando houver uma tendência de alta nos preços dos combustíveis, por exemplo, a briga da Esso com a Petrobras pode “segurar” um possível reajuste. “Isso porque a Petrobras não vai estar mais sozinha comandando o mercado, apesar de continuar sendo a única que explora o petróleo”, acrescenta.
Em breve, outras mudanças devem ocorrer no setor de combustíveis. Segundo informações obtidas pela reportagem, a Ultra - do Grupo Ultragás -, que recentemente comprou a Ipiranga, também está negociando a aquisição das operações da Texaco no Brasil. A decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pode ser divulgada nas próximas semanas.
Data: 29/04/2008