RIO - O projeto da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), um investimento estimado em 269 milhões de euros (cerca de R$ 750 milhões) que a alemã ThyssenKrupp começa a tocar, na zona oeste do Rio de Janeiro, ameaça esbarrar numa polêmica sobre geração de emprego. O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) prepara uma ação junto ao Ministério Público Federal para interditar a obra assim que desembarcar no País a primeira leva de 600 trabalhadores chineses que a empresa pretende importar para o projeto.
"Vamos pedir a interdição de imediato. Essa questão de que se trata de mão-de-obra mais qualificada é balela e eles (Thyssen) vão ter muita dor de cabeça. Tudo bem que o progresso não pode ser interrompido, mas não é burlando a legislação federal que ele será alcançado", protestou o presidente do Crea, Reinaldo Barros, defendendo a contratação de brasileiros para a obra.
O projeto está sendo elaborado pelo Citic Group, braço de investimentos do governo chinês, e uma das condições impostas pela companhia para participar da obra foi a utilização de seu próprio pessoal. A Thyssen, que detém 90% da CSA, é sócia da Companhia Vale do Rio Doce, dona dos restantes 10% do projeto. Procurados, os representantes da companhia alemã no Brasil não se manifestaram a respeito.
A polêmica já saiu do âmbito da indústria siderúrgica para alcançar o universo empresarial fluminense. O presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, saiu em defesa da conclusão da obra, mesmo com o recurso da mão-de-obra importada, que fez parte do acordo firmado entre os investidores e o governo do Estado.
"Não podemos aplaudir essa medida. Na verdade, lamentamos. Mas, entendemos o barateamento de custo. Temos de ser realistas. A medida reduz o custo à metade e esses empregos são temporários, enquanto durar a construção da siderúrgica. O importante serão os milhares de empregos a serem criados quando a usina estiver funcionando, a partir de 2009. Vamos nos aproveitar disso por décadas", diz o empresário.
No mês passado, a agência estatal de notícias da China, Xinhua, divulgou o acordo como o maior da China, para investimentos de coque de carvão. A Citic está construindo, também por empreitada em pacote fechado, usinas de coque na África do Sul e no Irã. O empresário Carlos Mariani, também da diretoria da Firjan, lembrou que o recurso do pacote fechado na construção de uma obra é um fenômeno da mobilidade de mão-de-obra mundial, e sequer é novo no Brasil.
"As empreiteiras chinesas já dominam o mercado no Oriente Médio. Estão agora apenas arranhando o mercado brasileiro, mas essa é uma tendência mundial", defende Mariani. Segundo ele, um dos motivos de o projeto de instalação da Companhia Siderúrgica do Maranhão - parceria da Vale com a francesa Arcelor e a chinesa Baosteel - não ter ido à frente foi justamente a resistência dos parceiros em adotar a estratégia chinesa.
A CSA tem capacidade anual projetada para 1,9 milhão de toneladas de coque de carvão. É o maior projeto da Thyssen fora da Alemanha, com capacidade de produzir 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, voltadas para exportação, por meio do Porto de Itaguaí, distante poucos quilômetros do local escolhido para sediar a usina, no bairro de Santa Cruz, na zona oeste do Rio.