SÃO PAULO, 15 de dezembro de 2006 - Cansados de reclamar da invasão dos produtos chineses no Brasil, que roubam mercado da produção local, os fabricantes de calçados de Franca resolveram se organizar com a finalidade de se tornar mais competitivos, abrir novos mercados para exportação e passaram até mesmo a enxergar uma janela de oportunidade no país que até então era seu maior rival: a China.
No início desta semana, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) sinalizou que deve retomar proposta de ação antidumping contra a China, que havia sido levantada em 2005 e acabou sendo engavetada. Mas, em entrevista à Gazeta Mercantil Online, o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca (Sindifranca), Jorge Donatelli, apontou que os próprios chineses consistem em uma alternativa para a retomada das exportações, que neste ano caíram 14,5%.
Apesar de admitir que a imposição de salvaguardas aos calçados chineses resultaria em aumento da demanda pela produção local - se o consumo doméstico dos produtos fabricados na China caísse pela metade, Donatelli calcula um aumento de, no mínimo, 12% da demanda por sapatos nacionais -, o presidente do Sindifranca também vê na China uma oportunidade de negócios.
'A China é um mercado muito grande que poderá comprar sapatos nossos com valor agregado. Nem todos os chineses querem comprar sapatos de plástico', afirma. Para Donatelli, uma boa estratégia para os fabricantes de Franca - região especializada em sapatos bem acabados, de elevado valor agregado - seria procurar as classes de maior poder aquisitivo da China. Segundo ele, há um mercado potencial de 200 milhões de chineses para os calçados brasileiros.
O presidente do Sindifranca lembrou que os calçados da região estão sendo aceitos em importantes mercados como o principal substituto do sapato italiano, número um em qualidade no mundo. 'Estamos ampliando negócios em países do Leste Europeu, Europa Ocidental, Ásia e América Latina', afirma.
A necessidade de abrir novos mercados aumentou depois que os Estados Unidos, até então principal comprador dos calçados de Franca, passou a optar pelos produtos chineses em detrimento dos brasileiros. 'Para os grandes compradores, hoje vale mais a pena comprar os sapatos da China, que chegam aos EUA de US$ 5 a US$ 6 mais baratos do que os brasileiros', diz Donatelli. As exportações para os norte-americanos, que chegaram a representar 90% das vendas externas da indústria de calçados de Franca, hoje representam 60% do total.
De janeiro a outubro de 2006, a região exportou US$ 117,46 milhões em calçados, cifra 14,5% menor do que a registrada no mesmo período de 2005 (US$ 137,3 milhões). E, apesar do otimismo e acreditar em crescimento das vendas externas no próximo ano, Donatelli admite que será difícil alcançar em 2007 o patamar registrado em 2005.
Data: 29/12/2006