Tainã Bispo
05/02/2007
A valorização do real tem levado editoras brasileiras a imprimir suas publicações bem longe do Brasil, mais precisamente, na China e na Tailândia, onde a mão de obra é bem mais barata.
Livros como "Guia de Vinhos do Mundo Todo", da Jorge Zahar Editor, e coleção "Primeiras Descobertas", da Caramelo (um selo da Siciliano), foram impressos em gráficas chinesas e tailandesas em sistema de co-impressão.
No modelo de co-impressão, ou co-edição, a editora que detém os direitos autorais da obra reúne editoras de vários países interessadas no mesmo título e organiza a impressão dos exemplares na Ásia. A idéia não é nova no mercado editorial, mas, segundo Cynthia A. Gilbert, gerente internacional de licenciamento da editora inglesa Dorling Kindersley para o Brasil (DK), as compras de licença em co-edição têm crescido nos últimos três ou quatro anos.
"Quando a moeda estava desvalorizada as editoras licenciavam os direitos autorais e imprimiam no Brasil", diz Cynthia. Dentre as empresas que trabalham com a DK estão as editoras Publifolha, Siciliano e Melhoramentos.
O país que perdeu espaço com o crescimento chinês na América Latina foi a Colômbia. Durante os anos 80 e meados dos 90, havia regiões naquele país com mão-de-obra especializada em produzir livros infantis, principalmente os títulos com "pop-up" - nesses produtos personagens e objetos saltam da página quando o livro é aberto.
As negociações no modelo de co-impressão, em geral, acontecem em feiras de livros internacionais. Depois, é uma questão de prazo. As editoras traduzem o texto e enviam os arquivos para a gráfica. A impressão é a mesma para as diversas versões, a única coisa que muda é o texto.
No Caramelo, selo de títulos infantis da Siciliano, 30% dos lançamentos são feitos em sistema de co-impressão. Para Janice Florido, diretora editorial da Siciliano, não há como comparar o preço da impressão na Ásia ao preço que seria praticado no Brasil. "Não há tecnologia gráfica no Brasil para alguns produtos", diz.
Cynthia, da DK, estima que o serviço seja entre 50% e 60% mais barato na Ásia do que no Brasil. O valor depende da quantidade de exemplares. Na DK, um projeto não vai à gráfica com menos de 15 mil cópias. No Brasil, a tiragem inicial média gira em torno de 3 mil.
Na Melhoramentos, 10% dos lançamentos de 2006 foram feitos nesse formato. "A grande parte desses títulos eram infantis e de alto valor agregado", diz Breno Lerner, diretor geral da editora.
Mário César de Camargo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica e da Gráfica Bandeirantes, reconhece a dificuldade dessa competição. "Nós temos tecnologia, mas o problema é de mão-de-obra", diz. "Os livros infantis com 'pop-up' são simples, mas exigem um trabalho de montagem que é artesanal." Segundo ele, há 1,5 mil gráficas que imprimem livros e revistas no Brasil que empregam cerca de 10 mil pessoas. "Na China são 1,5 mil empresas, mas que empregam 200 mil funcionários. É uma mão-de-obra bem mais barata", diz.
Outra editora que tem apostado nesse tipo de negócio é a Jorge Zahar. A coleção de guias que a editora está lançando da DK no Brasil já conta com dois títulos, sobre vinho e música clássica. "É a primeira vez que trabalhamos nesse modelo", diz Mariana Zahar, diretora comercial. O projeto do guia de vinho envolveu quatro países (EUA, Holanda, Brasil e Espanha). A tiragem inicial é de 27,5 mil exemplares.
Mariana aponta uma desvantagem em relação à co-edição. "Há um problema de logística, principalmente quando há necessidade de reimpressão". A tiragem inicial do guia do vinho, lançado em outubro de 2006, foi de 10 mil exemplares e acabou em dois meses. A próxima remessa, de 7,5 mil cópias, levará três meses para chegar.
A Siciliano imprimiu, em 2006, 10 mil exemplares do livro "Baile das princesas", da Disney. Foram vendidos em 40 dias. A espera, agora, é de dois meses para a próxima impressão. Quando se tem pressa, a opção é imprimir na Espanha ou no Leste Europeu. Mas, o preço é 45% superior ao da China.Data: 15/03/2007