BRASÍLIA E SÃO PAULO - Réu no processo do mensalão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) adotou uma estratégia de defesa que tem como alvo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Jefferson vai arrolar o presidente como testemunha de defesa. O objetivo é saber até que ponto o presidente sabia do esquema. Além disso, os advogados provocaram o Supremo Tribunal Federal (STF) a explicar por que o presidente não foi incluído entre os 40 réus do processo, afirmando que ele foi beneficiário do esquema. O STF ainda não respondeu.
- Toda aquela história de 'eu não sabia' vai ser esclarecida. O presidente é uma testemunha importante e qualificada - disse Luiz Francisco Corrêa Barbosa, advogado de Jefferson.
Líderes da oposição estão animados com os sinais de que os depoimentos à Justiça dos principais personagens do escândalo do mensalão podem fazer revelações importantes, envolvendo outros dirigentes petistas e do governo. Depois das declarações do ex-tesoureiro Delúbio Soares, de que toda a executiva do PT sabia dos empréstimos para repassar aos partidos aliados e para cobrir o rombo de R$ 26 milhões nas contas de 2003, a expectativa agora é com o depoimento desta semana do publicitário Marcos Valério, que deve ocorrer na próxima sexta. No sábado, o advogado de Valério, Marcelo Leonardo, disse que não haverá novidades no depoimento sobre a acusação de operador do esquema do mensalão e do caixa 2. Marcelo Leonardo não quis comentar a informação de que uma nova estratégia 'explosiva' está sendo preparada pela defesa do empresário, e afirmou que não está sabendo de nada.
Kátia Rabelo: Valério fornecia informações da agenda de Dirceu
A presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo, prestou depoimento nesta segunda-feira, em Belo Horizonte, no caso do mensalão, por mais de cinco horas, na 4ª Vara da Justiça Federal. Ela declarou que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza era facilitador e intermediava os contatos entre a direção do banco com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Segundo Kátia, Valério fornecia detalhes sobre a agenda do ex-ministro.
A presidente do Rural confirmou um jantar com Dirceu, em Belo Horizonte, em 6 de agosto de 2004, e disse que, no encontro, teriam conversado sobre a situação política e econômica do país. Ela contou que queria informações sobre a liqüidação do Banco Mercantil de Pernambuco, onde o Banco Rural detinha 20% de participação acionária. O ministro, segundo ela, não tinha detalhes e ficou de dar um retorno sobre o assunto, o que não teria ocorrido.
Ela disse que até 2004 quem respondia pelas operações financeiras do banco era o vice-presidente, José Augusto Dumont, e que só ficou sabendo do envolvimento do Banco Rural no mensalão pela imprensa.
Kátia disse ainda que não acredita que o banco tinha intenção de ocultar os nomes das pessoas que faziam saques, já que havia comprovantes dessas retiradas.
A Justiça Federal vem colhendo depoimentos de acusados de terem participado do mensalão desde semana passada. Na sexta-feira, a
Justiça Federal do Paraná ouviu o depoimento do ex-tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, um dos réus no processo do mensalão.
Na quinta-feira, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi ouvido pela Justiça Federal de São Paulo. No mesmo tribunal, prestaram depoimento dois sócios da corretora Bonus-Banval. Já o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, que também deveria ter prestado depoimento, fez um acordo com a Justiça e deixou de ser réu do mensalão.
Data: 29/01/2008