SÃO PAULO e RIO. O presidente da Telefônica, Antônio Carlos Valente, aventou a possibilidade de falha humana e não descartou a ação de hackers, na pane que paralisou, entre a tarde de quarta-feira e a noite de quinta-feira, os serviços de banda larga da companhia em 407 cidades de São Paulo. Segundo Valente, a origem do "apagão" estaria em um roteador (equipamento que distribui o sinal) instalado na região de Sorocaba. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, reconheceu que o sistema de transmissão de dados e acesso à internet no Brasil é vulnerável.
Costa afirmou que Rio e Belo Horizonte, segundo informações que recebeu, estariam fora de perigo, pois têm plano B para emergências dessa natureza.
- Hacker é pouco provável, mas isso não significa dizer que não houve falha humana, inclusive de algum funcionário - afirmou Valente, acrescentando que o equipamento foi lacrado e será analisado pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), que emitirá um laudo nos próximos dez dias.
Para Costa, é importante um plano alternativo - que, no caso de São Paulo, foi falho:
- Isso já aconteceu em outros países. A gente tem de estar preparado, com a rede B, mas a rede B falhou em São Paulo.
Valente, que conversou ontem de manhã com o ministro, evitou comentar as críticas. Ele diz que os equipamentos e sistemas são os mesmos de grandes companhias no mundo.
Levantamento preliminar da Telefônica mostra que a pane afetou boa parte dos 2,4 milhões de clientes do Speedy (68% dos usuários de banda larga em São Paulo). Das sete mil empresas que têm contratos de prestação de serviço, ao menos metade não pôde utilizar a rede privada da Telefônica. Órgãos públicos foram afetados, prejudicando serviços como o registro de boletins de ocorrência ou emissão de documentos. Todos os contratos têm cláusulas de qualidade que prevêem multas.
- Danos poderão ser pagos não com dinheiro, mas com serviços - disse Valente, sobre os serviços corporativos.
O Ministério Público (MP) de São Paulo deverá apresentar à Justiça ação civil para que a Telefônica indenize os clientes. O MP quer ainda a devolução automática de valores pagos pelos clientes durante a interrupção do serviço.
Serviço ainda tinha falhas fora da capital paulista
A Companhia de Processamento de Dados de São Paulo (Prodesp) avalia pedir indenização na Justiça. Antes, cobrará o cumprimento das cláusulas contratuais. O mesmo fará a Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo (Prodam).
De manhã, em nota, a Telefônica disse que cumprirá "as determinações jurídicas, regulatórias e contratuais decorrentes dos problemas acarretados a parte de seus clientes". A empresa ainda corre o risco de ser multada em até R$3,1 milhões pelo Procon. O Procon considerou tímida a proposta da Telefônica para ressarcir os clientes do Speedy: abatimento, na próxima fatura, de valor referente a um período um pouco superior ao tempo em que o serviço ficou fora do ar.
Apesar de a empresa ter afirmado que a pane começou a ser controlada na noite de quinta-feira, provedores que utilizam o sistema da empresa continuaram a reclamar ontem da qualidade da conexão, principalmente fora da capital. O serviço de atendimento da Telefônica confirmava, no fim da tarde, que o Speedy continuava indisponível em algumas áreas.
Lino Rodrigues, Cleide Carvalho* e Chico de Gois |
O Globo |
Data: 08/07/2008 02:17:27