RIO - Preso desde sábado, Jêrome Kerviel, 31 anos, o funcionário do banco francês Société Générale acusado de realizar uma fraude de 50 bilhões de euros no mercado futuro europeu, que resultou em um prejuízo de 5 bilhões de euros para a empresa, não teve ainda sua culpa comprovada, mas já virou uma celebridade na internet.
Ele ganhou comunidades como "Jérôme Kerviel deveria ganhar o Nobel de Economia" (1.209 membros) e "Se 5 bilhões de pessoas entrarem no grupo e derem 1, salvamos a carreira de Kerviel" (apenas 455). Entre os recados, "Jérôme Kerviel é o Che Guevara das finanças" e "Finalmente um recorde financeiro para a França!". Surgiu até um blog (jerometherogue), em que o autor se consola com os comentários sobre sua beleza: "É preciso agradecer essas pequenas gentilezas".
Enquanto isso, a família de Kerviel diz que ele está sendo feito de bode expiatório para o maior escândalo financeiro da história. O advogado do operador, Christian Charrière-Bournazel, afirma que seu cliente não roubou nem um centavo e que apenas fazia seu serviço, atribuindo as perdas ao próprio banco, por "liquidar suas posições em condições atrozes".
A polícia, por sua vez, ampliou a custódia de Keviel de 24 horas para 48 horas, para ter mais tempo para o interrogatório. Até esta segunda-feira à tarde, deve ficar decidido se ele será confiado a um juiz de investigação antes de um possível indiciamento ou se vai ser libertado por falta de provas.
- A detenção está indo bem. Ele está falando das coisas das quais foi acusado - disse Jean Michel Aldebert, chefe da seção financeira da promotoria de Paris.
Um advogado que atua em nome dos pequenos acionistas do Société, que entraram com uma ação judicial ligada aos prejuízos, disse ser impossível Kerviel ter agido sozinho ou sem deixar rastros de suas atividades, e acusou o banco de negligência.
Banco emite comunicado explicando como a fraude foi realizada
O banco francês Société General finalmente reconheceu neste domingo que Jerôme Keviel é o operador responsável pela fraude bilionária informada na semana passada. De acordo com a instituição,ele trabalhava para a firma há sete anos, ganhava cerca de 100 mil euros por ano e tinha acesso ao sistema para a realização de operações no mercado financeiro.
O Société Generale deu queixa à polícia com três acusações - falsificação fraudulenta de registros bancários, uso fraudulento de tais registros e fraude por computador.
Neste domingo, a instituição também divulgou um comunicado de sete páginas dando maiores detalhes sobre as posições fraudulentas assumidas, que garante ter descoberto apenas no fim de semana passado e desmontado entre 21 e 23 de janeiro. O banco explicou que seu funcionário criou contas fictícias para fazer parecer que suas posições tinham sido cobertas, quando de fato permaneciam abertas. Também disse que ele falsificou documentos para justificar suas ações.
O Société Générale afirmou que os acordos realizados conforme ele desmontava posições do trader respondiam por 5,9 a 8,1% dos volumes de negociações no índice de futuros da Eurostoxx, 5,7 a 7,8% dos futuros da alemã DAX e até 3,1 por cento dos futuros da britânica FTSE
Data: 28/01/2008