O número de denúncias de sites na Internet com mensagens de ódio, aversão ou discriminação contra homossexuais mais que dobrou nos últimos dois anos no Brasil. Segundo levantamento da organização não-governamental (ONG) Safernet, conveniada ao Ministério Público Federal, houve crescimento de 166% na quantidade de endereços eletrônicos que pregam a homofobia entre 2006 e 2008.
De janeiro a abril deste ano, foram detectadas 931 páginas virtuais contra os homossexuais, ante 350 no mesmo período de 2006. Se forem consideradas apenas as do site Orkut, o crescimento é maior, de 200%. Passaram de 294 para 880. Apesar da mobilização dos grupos de defesa dos homossexuais para combatê-la, a homofobia, sem tipificação como crime no Código Penal, continua ganhando terreno, principalmente na Internet, por conta do anonimato e da baixa possibilidade de punição.
Não por acaso, a homofobia foi escolhida como tema da Parada Gay que acontece neste domingo em São Paulo. "Vivemos um momento perigoso, a era do preconceito disfarçado. Como o movimento dos homossexuais conquistou espaço, tornou-se politicamente incorreto agredir os gays em público", afirma a drag queen Léo Áquila, que todos os dias deleta da sua caixa de e-mail mensagens anônimas com ameaças e xingamentos.
"Na Internet, ninguém tem identidade. Nesse cenário velado, o crime virtual ganha força. Pode não ser violência física, mas a tortura psicológica também machuca", disse. "Morte aos gays" e "Eu odeio boiolas" são só duas das comunidades do Orkut que reúnem exemplos de intolerância.
O Google, responsável pelo Orkut, diz que tem uma equipe responsável por rastrear, diariamente, o conteúdo das comunidades. A empresa também tem acordo de cooperação com o Ministério Público, Polícia e Justiça.
O alcance da criminalidade na Internet, atrelado às ações contra gays, lésbicas,
bissexuais e transgêneros (GLBT), já fez a cidade de São Paulo ganhar duas delegacias especializadas: a Divisão de Cibercrimes e a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
Segundo o delegado titular da Cibercrimes, Ubiracyr da Silva, não é difícil as investigações das duas entidades se cruzarem. "Quando a violência contra os gays é expressada pela Internet, a Decradi nos procura", afirmou Silva, ao ressaltar que, dos 1.300 inquéritos em andamento, 60% referem-se aos insultos, humilhações, difamações e injúrias divulgados em sites.
"Mas para dar subsídios à Polícia, é preciso romper o muro de silêncio. Sem denúncia, é difícil criminalizar o preconceito", reforça Margarette Barreto, delegada titular da Decradi. Marco Antônio Zito, presidente da Comissão do Negro e de Assuntos Antidiscriminatórios da OAB-SP, orienta as vítimas a procurar a Justiça ou a Polícia, sempre que sofrerem discriminação. "Eles devem fazer valer seus direitos. Não se pode mais fechar os olhos ao cidadão, independentemente de cor, raça ou sexo", disse. (das agências de notícias)
Data: 25/05/2008