A CPI da Pedofilia, que nas últimas semanas promoveu a quebra de sigilo de mais de três mil perfis no Orkut e revelou a ação de mais de 500 pedófilos no site de relacionamentos, trouxe à tona um questionamento: como os pais e as escolas podem proteger filhos e alunos da exposição a esse tipo de assédio? Segundo informações do site www.censura.com.br - Campanha Nacional de Combate à Pedofilia -, a Internet é hoje o principal meio de divulgação da pedofilia, que movimenta milhões de dólares por ano e forma verdadeiras redes com o objetivo de articular e unir os pedófilos, adquirir fotos, vídeos, fazer turismo sexual e tráfico de menores.
No Colégio Agnus, por exemplo, o acesso dos estudantes a Internet passou a ser acompanhado por uma educadora, seja na sala de informática, no laboratório de multimeios ou na biblioteca. "Também estamos formando um grupo de pais e mães para lidar com as questões da violência doméstica; essa formação inclui o aprendizado sobre como proteger os filhos da pedofilia", revela Fernando Antônio Pinto, diretor da escola, assistente-social e mestrando em Educação pela Universidade São Marcos (SP).
A escola admite que adotou essa iniciativa por precaução, visto que desconhece qualquer tentativa de aliciamento dos estudantes do local. Entre outras medidas preventivas, o bloqueio de acesso ao site de relacionamentos Orkut, ao MSN e às salas de bate-papo. "Queremos ainda este ano transformar o laboratório de informática da escola numa lan house, porque muitos alunos não acessam Internet em casa e assim garantiremos que o tempo livre na web seja usado para pesquisas ou para atividades produtivas", planeja o diretor. A preocupação redobrou com a CPI da Pedofilia tanto que o tema entrou para a pauta do I Encontro de Temas Polêmicos, que a escola realizou nos últimos dias 30 e 31 de maio, em parceria com o Colégio Rosa Gattorno.
Na Escola Vila, além do acesso ser monitorado num laboratório que só comporta 10 alunos por aula, a coordenação pedagógica elaborou uma disciplina chamada Desenvolvimento Humano. Segundo Áurea de Abreu, psicóloga, nessa disciplina são trabalhadas as questões cotidianas e os conflitos inerentes a cada idade, como sexualidade, drogas, violência e abuso sexual. "A escola precisa ser um espaço de confiança. Desde que a gente percebeu que esse era um perigo que não está longe da gente, porque ele vem pela Internet e entra na vida de qualquer um, que muitas crianças estão sendo vítimas, que adotamos medidas preventivas", revela a psicóloga. A Escola também procura orientar os pais. "Conversas e bloqueio de sites prejudiciais, bem como acompanhamento dos ambientes que a criança freqüenta na Internet, são as dicas básicas".
Para Ana Carmen Santana, pesquisadora no Laboratório de Multimeios da Universidade Federal do Ceará (UFC), aluna da pós-graduação em Educação da UFC e monitora na Bibliotequinha Virtual do Centro Cultural Banco do Nordeste, a escola deve ficar atenta e ao lado dessas crianças, para que as descobertas sejam utilizadas pedagogicamente na melhoria da qualidade de ensino e na formação de cidadãos críticos em nossa sociedade. "Numa situação onde for pesquisar sobre sexo ou sexualidade, o indicativo para sítios pornográficos estará lá nos resultados, mas a mediação pode tornar aquilo motivo de piada, tabu, ou até mesmo facilitação de acesso a materiais pornográficos. Trabalhar com o lema 'nada é proibido, mas nem tudo é permitido' é o que aprendemos e trabalhamos nos projetos do Laboratório Multimeios da UFC, e essa é nossa sugestão para que o chamado das turmas para a construção de regras de convivência coletiva seja algo concreto".
EMAIS
Como identificar um pedófilo
De acordo com a Polícia Federal, existe, sim, um perfil de pedófilo que age através da Internet, apesar dela acreditar que, em casos de pedofilia, nem sempre há regra ou padrão estabelecido. Na maioria dos casos apurados pela polícia, o perfil é de um homem entre 30 e 45 anos, solteiro, que mora sozinho, reservado, inseguro, tem dificuldade de manter relações afetivas por muito tempo e, em alguns casos, cansou de consumir pornografia adulta, migrando para a pedofilia.
Entenda a CPI da Pedofilia
A CPI da Pedofilia, presidida pelo senador Magno Malta (PR-ES), foi instaurada no dia 25 de março de 2008 devido a várias denúncias que a organização não-governamental (ONG) SaferNet vinha fazendo ao Ministério Público, há mais de quatro anos, de crimes praticados na internet. Ela surge na esteira da CPI da Exploração Sexual para investigar as redes de pornografia infantil e outros delitos cibernéticos.
Um balanço parcial da ONG mostrou que, no primeiro trimestre de 2008, houve um aumento de 107% na publicação de páginas de interesse de pedófilos no site de relacionamento Orkut. O número de denúncias sobre o assunto chegou a 35.049, ou 500 registros diários. Em 2007, foram 267.089 denúncias.
A reportagem tentou entrar em contato com o diretor executivo da ONG SaferNet, Thiago Tavares, via telefone e e-mail, mas foi informada por Krishnamurti Nunes, assessora da organização, que ele está colaborando com a CPI, por isso não atende.
Data: 03/06/2008