Profissionais de imprensa se reuniram ontem no auditório da Imprensa Nacional, em Brasília, para discutir a
qualidade da cobertura jornalística e atuação da imprensa no Brasil. O evento faz parte do ciclo de palestras
realizadas em comemoração ao bicentenário da imprensa brasileira, com a fundação do Correio Braziliense, em
Londres, por Hipólito José da Costa, em 1º de junho de 1808.
O conferencista do evento, Carlos Alberto Di Franco, professor de Ética da Comunicação e representante da
Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra no Brasil, falou sobre a "difícil relação entre o direito à
informação e o direito à privacidade". "Essa relação não é simples. Os dois reclamam a existência de mecanismos de
harmonização."
Para Di Franco, "a invasão da privacidade é o pecado mais pernicioso do jornalismo dos nossos tempos". "As
pessoas são engolidas pelo mundo do espetáculo. Sou contrário aos abusos de certo telejornalismo popular que é
produzido quase em parceria com a polícia", disse.
Mas o professor lembrou que a defesa do direito à privacidade não pode ser usado para impedir a investigação e
revelação pela imprensa de informações que são de interesse geral da sociedade. "O direito à privacidade não pode
ser jamais um escudo protetor, sobretudo das figuras públicas", afirmou.
Di Franco também listou sete desvios que, segundo ele, devem ser evitados na prática do bom jornalismo: o
protagonismo dos repórteres; a passividade dos jornalistas; o jornalismo de registro; o jornalismo de dossiê; o
prejulgamento; a editorialização do noticiário; e o negativismo da mídia.
O professor também se referiu às armadilhas do chamado "jornalismo de dossiê". "Um dossiê pode ser uma pauta
magnífica, mas é uma pauta. Não é o ponto de chegada, mas um ponto de partida", disse, defendendo a checagem
completa de documentações que chegam aos jornalistas antes de sua publicação. "Isso evita que sejamos
manipulados", avalia.
Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Grupo Estado, lembrou que o desafio da imprensa fica maior ainda com o
surgimento das chamadas novas mídias e também com o estabelecimento cada vez maior de uma sociedade voltada
para os interesses individuais. "O mundo vive um momento de exacerbação cada vez maior de valores ligados ao
individualismo, do hedonismo, da preocupação com o eu. E temos o desafio de levar aos leitores o que é importante
e ao mesmo tempo interessante", disse. "Mas entendo que os valores da edição jornalística devem ser preservados,
independentemente da plataforma de edição", completou.
Data: 05/06/2008