A tentativa do banqueiro Daniel Dantas de se aproximar do ainda candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, provocou o primeiro racha no grupo de ministros que ficou conhecido como "núcleo duro" do governo. Então na Casa Civil, José Dirceu operou a favor de Dantas; na estratégica Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken fez de tudo para que o banqueiro não se aproximasse; no Ministério da Fazenda, Antonio Palocci pesou prós e contras e decidiu ficar neutro.
A disputa de Gushiken com Dantas foi motivada pelo controle dos fundos de pensão, sócios das telefônicas controladas pelo banqueiro. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, Dantas tinha tanta influência sobre eles que chegou a trocar um diretor da Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil. Como Gushiken tinha uma empresa de formação de quadros para os fundos, os dois ficaram em lados opostos.
No ano 2000, Dantas chegou a contratar a Kroll - empresa americana de investigação privada - para bisbilhotar a vida dos sócios da Telecom Itália na Brasil Telecom (BrT), que era controlada por ele. Durante a espionagem, foram grampeados e capturados até e-mails de Gushiken para Luiz Roberto Demarco, antigo sócio de Dantas.
Gushiken nunca o perdoou. E fez de tudo para distanciá-lo dos fundos de pensão, assim que o PT ganhou a eleição.
A briga, na qual estavam em jogo R$ 14 bilhões, acabou vencida por Gushiken. Coordenador da campanha eleitoral de Lula, ele vetou o recebimento de qualquer doação feita por Dantas ou por suas empresas. "Enquanto eu for vivo, esse senhor não contribui para a nossa campanha", assegurava.
Já em 2004, ao saber que o tesoureiro petista Delúbio Soares fazia um trabalho de aproximação com o banqueiro, Gushiken passou-lhe um pito. Foi profético: "Saia de perto dessa pessoa. Isso vai dar encrenca."
Na verdade, Delúbio já andava de braço com a encrenca chamada Marcos Valério Fernandes de Souza. Um ano depois, estourou o mensalão.
De acordo com a CPI dos Correios, o dinheiro das empresas Dantas teria abastecido o mensalão, com o esquema que ficou conhecido como "valerioduto". Os valores entravam para as empresas de Marcos Valério e de lá saíam para partidos aliados.
Os advogados de Dantas sempre negaram. Disseram que eram pagamentos feitos às empresas DNA Propaganda e SMPB, por serviços prestados à Telemig, Brasil Telecom e Amazônia Celular, controladas por Dantas.
Durante os primeiros anos do governo de Lula eram comuns os comentários sobre desentendimentos entre Dirceu e Gushiken. Dizia-se que Gushiken tinha maior influência sobre Lula, provocando ciúmes no chefe da Casa Civil.
Na tentativa de aproximar Dantas do governo, Dirceu aliou-se a Henrique Pizzolato, então diretor de marketing do Banco do Brasil e antigo aliado de Gushiken. Por causa dessa opção, Gushiken acusou Pizzolato de traição.
João Domingos
Data: 15/07/2008 09:59:00