Pessoas encaram com mais naturalidade mentiras via correio eletrônico. Para pesquisadores, e-mail diminui confiança em grupos de trabalho.
O uso de e-mail facilita a mentira no ambiente de trabalho. Essa é a conclusão de dois estudos feitos por pesquisadores norte-americanos, divulgados nesta segunda-feira (29) pela agência Fapesp, segundo os quais as pessoas encaram com mais naturalidade a mentira quando ela acontece via correio eletrônico.
"Há uma preocupação crescente nos escritórios a respeito da comunicação por e-mail, que pode ser resumida a uma palavra: confiança. Por e-mail você não recebe pistas verbais ou comportamentais e, em um contexto organizacional, isso deixa um grande espaço para problemas de interpretação. No caso de nosso estudo, de enganar intencionalmente", afirmou Liuba Belkin, professora de administração da universidade norte-americana Lehigh e uma das autoras do estudo.
As pesquisas serão publicadas no periódico "Social Justice Research Journal".
O primeiro trabalho distribuiu US$ 89 para 48 estudantes de MBA, que deveriam dividir esse valor com um colega fictício. De acordo com o estudo, o colega teria noção de que a quantia total estava entre US$ 5 e US$ 100 e aceitaria o dinheiro, independente de qual fosse o valor repassado. Os voluntários tinham de usar e-mail ou papel e caneta para comunicar quanto o colega receberia.
Os participantes que escreveram as mensagens em papel mentiram em 64% dos casos, contra 92% daqueles que preferiram usar o e-mail. O primeiro grupo também foi mais amigável: em média distribuiu US$ 34 e disse ter US$ 67. Já a turma do e-mail, em média, repassou US$ 29 e afirmou ter recebido US$ 56, quando na verdade tinha US$ 89.
"É bom destacar que os dois meios são baseados apenas em texto. Mesmo assim, verificamos uma grande diferença", disse Charles Naquin, da Universidade DePaul, outro autor da pesquisa.
Proximidade
Ainda como parte do trabalho, os pesquisadores fizeram outro estudo, dessa vez com 69 estudantes. Eles descobriram que, quanto mais próximos os usuários de e-mail eram daqueles que receberiam as mensagens, menores as chances de eles mentirem. Ainda assim, as inverdades continuaram existindo.
"Os resultados são consistentes com outro estudo, que indicou que a comunicação por e-mail diminui a confiança e a cooperação em grupos de trabalho, ao mesmo tempo que aumenta a negatividade em avaliações de performance. As pessoas se sentem mais justificadas em agir de modo egoísta ao digitar, em comparação com quando têm que escrever algo em papel", disse outra autora da pesquisa, Terri Kurtzberg, professora da Universidade Rutgers
Data: 30/09/2008 18:06:55