O misterioso líder do grupo LulzSec é exposto como colaborador do FBI
'Tango down - cia.gov.” A mensagem foi publicada em 15 de junho de 2011 no perfil do grupo de hackers LulzSec no Twitter. O texto se referia ao ataque que tirou do ar o site da agência de inteligência americana CIA. Tango down (em tradução livre, tango abaixo) é uma expressão usada por soldados americanos ao matar um inimigo no campo de batalha. Dessa vez, o termo se virava contra o feiticeiro. Em maio e junho passados, o LulzSec fez inúmeros ataques virtuais a órgãos do governo dos Estados Unidos, incluindo a CIA e o FBI, e a empresas, como Sony e Fox. Derrubou sites e roubou informações. Na semana passada, veio o troco. A emissora de TV Fox News revelou que o então líder do LulzSec, que na internet usava o apelido de Sabu, vinha trabalhando como informante para o FBI (polícia federal dos EUA) desde agosto de 2011. Com suas ações, Sabu registrou um “tango down” contra sua própria misteriosa entidade. Segundo o FBI, o hacker transformado em informante ajudou a polícia a prender cinco de seus colegas do LulzSec.
A identidade de Sabu foi revelada na terça-feira 6. Sob a alcunha, está o porto-riquenho Hector Xavier Monsegur, de 28 anos, pai de dois filhos pequenos. Programador, ele estava desempregado ao ser preso, em junho do ano passado, no apartamento onde mora, em Nova York. A polícia o desmascarou após Sabu se esquecer de esconder os dados de indentificação de seu computador ao entrar num chat de bate-papo. Pouco depois, o LulzSec encerrou oficialmente suas atividades. Em 15 agosto, já preso, Sabu confessou estar envolvido em 12 crimes. Os delitos foram cometidos entre dezembro de 2010 e junho de 2011, e as penas somadas renderiam 124 anos de prisão. Desde então, ele passou a ajudar o FBI a encontrar outros hackers (a rigor, chamados de “crackers”, devido a sua conduta ilegal). Segundo a polícia, a colaboração de Sabu levou à prisão o britânico Ryan Ackroyd (“kayla”); os irlandeses Darren Martyn (“pwnsauce”) e Donncha O’Cearrbhail (“palladium”); e o americano Jeremy Hammond (“Anarchaos”). “Ele não facilitou as coisas”, disse um policial à Fox News. “Foi por causa das crianças. Ele não queria ir para a prisão e deixá-las.”
Sabu é considerado um dos hackers mais habilidosos e influentes do mundo. Sem formação na área, aprendeu tudo sozinho. Ele é descrito como “brilhante, mas preguiçoso”. Sua maior habilidade é descobrir falhas em sistemas para depois invadi-los e furtar informações. Uma tarefa complicada quando se trata de sistemas protegidos como os de órgãos federais. O grupo de hackers que Sabu liderava, o LulzSec, é considerado uma dissidência de outro maior, o Anonymous. Foi formado no começo do ano passado e ganhou adeptos também no Brasil. Por aqui, a versão brasileira derrubou e causou lentidão em vários sites governamentais, além de divulgar documentos de operações da Polícia Federal e dados pessoais atribuídos ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e à presidente Dilma Rousseff. Os líderes do LulzSec alegavam agir movidos por engajamento político ou pura diversão.
Sabu confessou ter invadido os sites do PayPal e da Mastercard simplesmente para furtar senhas. “As prisões são um grande golpe contra aqueles que querem agir contra a segurança nacional”, afirma Coriolano Almeida Camargo, coordenador do curso de Direito Eletrônico e inteligência cibernética nas faculdades Alfa/Fadisp.
A traição de Sabu estremeceu o mundo dos hackers. Parte dos integrantes do LulzSec voltara a agir com o Anonymous. Muitos se uniram contra Sabu e os federais americanos. Na terça-feira, divulgaram centenas de números de fax e endereços de e-mail de escritórios do FBI. O objetivo era criar um movimento de “blackfax” (fax negro, em tradução livre): uma enxurrada de mensagens por fax e e-mail que travaria equipamentos e redes do FBI. Os hackers também invadiram o site da empresa de segurança na internet Panda Security, em cuja página deixaram recados endereçados ao traidor. “Sabemos que Sabu nos dedurou. O FBI ameaçou separá-lo de seus filhos. Nós entendemos, mas também somos uma família.”
Com as recentes prisões, a polícia federal americana acredita ter ficado mais perto de uma vitória definitiva contra o ciberterrorismo. “Será devastador para a organização. Estamos cortando a cabeça do LulzSec”, disse um representante do FBI. Ou talvez os criminosos, em sua luta contra tudo e todos, voltem mais engajados e seletivos em seu recrutamento. “Quem está dentro está, e quem está fora terá de provar que tem lealdade aos interesses desses grupos”, disse a ÉPOCA um investigador especialista em crimes cibernéticos. Irritados, traídos e soltos, os hackers podem ser ainda mais perigosos.
Fonte da pesquisa: Revista Época e Exército Brasileiro - http://bit.ly/ApCg6A | 13/03/2012
Data: 15/03/2012 02:53:52