Bianca Ribeiro
O Brasil continua patinando em vários quesitos de competitividade mundial e persiste enquadrado, desde 1997, no conjunto de países com pior desempenho do Índice de Competitividade das Nações. O mais recente levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revela que a média do Índice de Competitividade (IC) do Brasil entre 1997 e 2004, foi de 19,1 pontos, em uma escala de 0 a 100.
Esse patamar é menor do que média de todos os 43 países pesquisados, de 53,4 pontos, e inferior, inclusive, à média obtida pelos 11 países com o nível mais baixo de competitividade apurado no mesmo intervalo de tempo, de 22,9 pontos. E a expectativa não é de melhora no curto prazo. Considerando os dados já disponíveis de 2005, a previsão da Fiesp é de que no próximo estudo o Brasil fique estagnado em 38ª posição.
O avanço de um degrau no ranking divulgado hoje pela Fiesp, de 39º para 38º colocado, apenas devolve o Brasil para a colocação que tinha em 1997. Daí por diante houve uma flutuação entre a melhor posição em 1998 (37ª) e a pior em 2000 (40ª). Entre 2001 e 2003, o conjunto de variáveis que contribuem para a formação do índice não evoluiu e o Brasil ficou parado na 39ª posição.
Vale lembrar que o estudo leva em conta o desempenho de 83 quesitos em 43 países que representam 95% do PIB mundial. São consideradas as performances dessas nações em economia doméstica, governo, custo de capital, infra-estrutura, tecnologia, comércio internacional, ambiente de negócios e capital humano.
Se consideradas todas essas as variáveis, entre 1997 e 2004, o estudo revela que a Rússia, a Irlanda e a Malásia ganharam posições no ranking graças à adoção de estratégias que incluem a redução dos gastos do governo e da taxa de juros, aumento das exportações de produtos de maior valor agregado e diminuição da carga tributária. São quesitos onde o Brasil continua indo na contramão.
"O Brasil está perdendo a oportunidade de crescer em um ambiente externo favorável que não deve permanecer por muito tempo", disse José Ricardo Roriz Coelho, diretor da área de Competitividade da Fiesp, que apresentou hoje o estudo.
Tomando-se o desempenho médio de uma seleção de 11 países (República Tcheca, Hungria, Polônia, Rússia Coréia, Tailândia, China, Malásia, Índia, Indonésia e África do Sul) que, na avaliação da Fiesp, concorrem diretamente com o Brasil no mercado internacional, o levantamento revela grandes defasagens.
A média do juro real brasileiro, por exemplo, foi de 13,1% ao ano entre 1997 e 2004, enquanto entre os outros concorrentes essa média foi de 2,5% ao ano. O spread bancário médio foi de 43,7% ao ano no mesmo período, bem acima dos 3,5% apurados entre os outros 11 países. A carga tributária, outro elemento considerado agravante para a baixa taxa de investimentos no país, ficou em 30,6% do PIB na média do intervalo de oito anos da pesquisa. Para os concorrentes, essa relação entre carga fiscal e crescimento econômico foi de 23% no mesmo intervalo.
Os gastos do governo, outro aspecto que deve ser corrigido com urgência segundo avalia a Federação, consumiram em média 19,2% do PIB no intervalo de tempo considerado, contra variação de 12,5% nas outras nações em disputa. Quando observado o desempenho do PIB per capita, o Brasil registrou média de US$ 7,2 mil, contra a média de US$ 8,5 mil registrada pelo conjunto de 11 países. A produtividade total, que abrange o desempenho da indústria, da agricultura e dos serviços, teve um crescimento médio anual de 7% entre as nações concorrentes, enquanto o Brasil apontou variação de apenas 2,1% em igual período.
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As alternativas propostas pela Fiesp para que esse quadro seja corrigido já são conhecidas. No caso da competitividade internacional, especificamente, as medidas mais urgentes, na visão da entidade, envolvem a redução do custo do capital, bem como o controle dos gastos do governo, o enxugamento da carga tributária e um maior equilíbrio cambial. |
Data: 12/12/2006